quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Feira sem identidade?

Por: José Carlos

Em uma discussão em sala de aula deparei-me com uma pergunta feita por um professor sobre qual era a identidade de Feira de Santana e do feirense. Em meio a sorrisos e burburinhos ouvi vozes tímidas e desdenhosas que diziam que a cultura de Feira de Santana era ir ao barzinho nos fins de semana. Outros menos desacreditados chegaram a afirmar que Feira não tem identidade.
Passei, portanto a observar os comentários de algumas pessoas que estão perto de mim e a opinião delas quando o assunto é a nossa cidade, sem nenhuma pretensão científica constatei que a identidade de muitos feirenses pauta-se em depreciar a própria cidade e em não valorizar nem reconhecer o que ela tem. É impressionante como pessoas que sobrevivem em nossa cidade, que fazem o famoso movimento pendular chegam sem nenhuma vergonha ou respeito e agridem de forma verbal tanto a cidade quanto os que moram aqui, e em vez do feirense debater e procurar defender a cidade de alguma forma, apontando nem que seja uma qualidade apenas, ele sorri envergonhado e ainda complementa “ó ainda tem mais isso e mais aquilo”.
Mas será que realmente não temos cultura? O que é então identidade? Será que a nossa tão “longínqua” Casa do Sertão aqui na UEFS guarda somente documentos e livros falsos? A Biblioteca do Cuca, o grupo de samba de roda Quixabeira da Matinha, as festas religiosas, a Micareta (para muitos em decadência, mas ainda existente), o mercado de Arte com a sua tradicional maniçoba e seus artigos em couro, a Feira livre do Centro de Abastecimento na segunda-feira que apesar das dificuldades ainda consegue reunir pessoas das mais variadas cidades do nosso interior. Então nada disso são frutos culturais? Ou será que não poderíamos afirmar que o feirense tem vergonha da sua terra e da sua origem?
Eu não teria receio em dizer que muitos afirmam que Feira de Santana não tem cultura porque não é banhada pelo mar, ou não possui mais de uma lanchonete do Bob’s, não possui um elevador Lacerda, ou um Cristo Redentor... O que eu estou querendo dizer é que não reconhecemos nem valorizamos a nossa cultura porque agimos por mera comparação. Inconscientemente fazemos como os antigos antropólogos europeus faziam quando visitavam outras sociedades e com aquele modelo eurocêntrico os julgavam como primitivos ou não.
Minas Gerais é um estado que não é banhado pelo mar, faz parte da cultura deles ir a bares e restaurantes, agora você que está lendo e que é um legítimo feirense vai dizer: “com certeza os bares de lá devem ser melhores, as pessoas devem ser mais legais, devem ter mais atrações...” Se eu disser que o Japão é uma ilha pobre e pequena, que seus habitantes tiveram que aprender a comer praticamente tudo o que se movia devido as bombas atômicas que os assolaram e que mesmo assim hoje é uma potência mundial, alguns feirenses irão dizer que essas bombas não devem ter sido tão fortes assim, que é bastante nutritivo comer cachorro, lagartos, escorpiões e que deve ser por isso que eles são tão inteligentes. Mas a verdade é que os japoneses não devem ter tido a grande idéia de desacreditarem neles mesmos para poder mudar a situação que estavam.
Se ir ao bar ou em um restaurante em Feira de Santana, ou ver o pôr-do-sol no módulo VII, ou ainda ir ao shopping só para bater perna são características nossas porque nos envergonhamos tanto? Se as opções são poucas, exerçamos nosso poder de cidadãos, procuremos e exijamos das figuras políticas locais mais projetos de lazer ou do que quer que seja. Ou então não façamos nada disso, continuemos a dizer que não temos identidade, que não possuímos cultura, que a grama do vizinho que é da capital e quem nem sabemos em que lugar mora é mais verde que a nossa, concordemos com aqueles que falam mal por desconhecimento e preconceito, concordemos com a nossa própria futilidade, sejamos coniventes com a nossa própria ignorância e abracemos com cada vez mais força a nossa própria subserviência, pois desta forma seremos sim os mesmos feirenses ditos aculturados, sem identidade, que só lamentam por não serem Gaúchos, Catarinenses, Cariocas, Soteropolitanos...
Se você que está lendo, não concorda, acha que é besteira, quer manifestar apoio ou total descrédito, vamos lá comente!!!! O intuito do Pensar UEFS é justamente este.